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China, tesouros e peripécias

Por Fernando Muylaert

China, uma das civilizações mais antigas e fascinantes do mundo, chamada de Zhōng Guó (“Império do Meio”) pelos chineses, por acreditarem que estavam no centro do mundo.

A China é uma potência econômica global, líder em tecnologia, inovação e comércio. Suas cidades, como Xangai e Pequim, são ícones de modernidade e progresso, repletas de arranha-céus deslumbrantes e infraestruturas ultramodernas. Por outro lado, as raízes profundas da tradição são visíveis em todo o país, desde os templos budistas e taoístas, até as celebrações culturais milenares. Mas nossa viagem hoje vai ser sua fascinante capital, Pequim (Beijing em mandarim).

Em Beijing, os traços do passado se entrelaçam com a agitação do presente de maneira surpreendente. Esta cidade cativante é como uma viagem no tempo, revelando segredos antigos, inovação e cultura contemporânea. O coração histórico de Pequim é adornado por joias arquitetônicas, sendo a Cidade Proibida a mais deslumbrante delas, visita obrigatória.

Lugar mais visitado de Beijing nos dias de hoje, a Cidade Proibida serviu como residência imperial durante séculos e está repleta de salas magníficas e histórias intrigantes que remontam à Dinastia Ming. Mais de 24 imperadores passaram em 500 anos. Devido a exigências do imperador, seus 720.000m² demoraram quatorze anos para serem concluídos. A cidade abrigava toda a sua família, seus milhares de funcionários e serviçais, como concubinas e eunucos. Sim, os guardas das esposas do imperador não tinham o órgão masculino, para evitar traições.

Mas por quê “Cidade Proibida”? Um rígido sistema de segurança controlava a saída e entrada de pessoas no local. A grande maioria dos funcionários que viviam na cidade nunca puderam colocar os pés para fora dela. Composta por cerca de mil edifícios de dez mil salas, é praticamente impossível visitá-la inteira, até porque a maior parte continua proibida e sem acesso para nós. Imagine o trabalho em contar o número de salas. Sem contar que cada uma destas tem 81 rebites, que seriam nove vezes nove. O repetido número 9 tem relação com a numerologia chinesa, muito importante para eles, representando supremacia e longevidade. A disposição dos pátios também foi projetada de maneira a acentuar essa importância numérica e seguindo os preceitos do feng shui.

A entrada principal da Cidade Proibida é a famosa Porta da Paz Celestial. A lenda diz que somente o imperador poderia a usar. As portas eram tão maciças, que eram conhecidas por serem feitas de ferro, mas na realidade eram de madeira e revestidas com placas de ferro. 

Cada elemento da Cidade Proibida tem um significado simbólico. Cores, padrões e arranjos de edifícios foram cuidadosamente escolhidos para representar poder, equilíbrio e harmonia no universo. Os telhados de tom amarelo dourado eram exclusivos para edifícios imperiais, simbolizando a ligação do imperador com o céu e a divindade, além de ser a cor do ouro.

O Jardim Imperial é um de seus jardins secretos. Também há passagens subterrâneas que ligam os edifícios, permitindo que os imperadores se movessem com discrição entre diferentes áreas do complexo. Mas isso nós turistas não temos acesso, uma pena.

Tanto pela cidade proibida como por toda a China, encontramos muitas estátuas de leões, sempre posicionadas em frente aos edifícios. Essas esculturas eram consideradas guardiãs espirituais, protegendo os palácios de influências malignas. O leão macho sempre com uma bola no seu pé e a fêmea com o filhote. Uma curiosidade é que apesar de adorados, não são originais da China, mas foram trazidos da Ásia Ocidental como presentes para o imperador na dinastia Han, que parece ter gostado e muito, multiplicando as estátuas do rei da floresta. 

No Portão da Harmonia Suprema, podemos encontrar um relógio de água que não apenas marcava o tempo, mas também previa o clima. A cada hora, uma estátua animal saía para indicar o tempo e a direção do vento. Durante as restaurações da Cidade Proibida, vários artefatos antigos e tesouros perdidos foram descobertos, revelando mais sobre a vida imperial e as práticas da época. Apenas uma pequena parcela dos objetos está em exposição. A maioria está escondida e guardada.

Outros destinos obrigatórios na capital chinesa são o Templo do Céu, criado para pedir a intercessão celestial para as colheitas; e o Palácio de Verão, também conhecido como  “Jardins da Perfeita Claridade” ou “Jardins Imperiais”, refúgio dos cálidos verões da Cidade Proibida.

Outro destino imperdível é a visita à maior obra arquitetônica do planeta, a Grande Muralha da China, que me arrependo de ter ido por conta própria. Não recomendo. A Muralha mais próxima de Pequim fica em Badaling, a 80 km do centro e a apenas 1h30 de trem, se você fizer tudo certo, o contrário de mim, que passei por uma jornada de metrô a uma estação sem trens disponíveis, seguido de um aplicativo de motorista local que não falava inglês e nos deixou em um local ermo, seguido de um táxi que me deixou em outro local sem nada. Como a Muralha fecha às 16h30, perdi o dia. Por sorte eu tinha mais um dia livre, no qual acertei os horários e consegui chegar até a Muralha. Momento de emoção única, onde eu estava realizando um dos meus grandes sonhos. 

Um dos monumentos mais icônicos e impressionantes da história da humanidade, este feito de engenharia colossal não é apenas um testemunho da criatividade humana, mas também uma estrutura carregada de histórias e curiosidades intrigantes que resistiram ao teste do tempo. Hoje declarada como Patrimônio Mundial pela Unesco e apontada como uma das Novas Maravilhas do Mundo, é formada por um conjunto de muros de terra compactada, pedras e tijolos, com mais de 21.196km de extensão, construídos a partir de 700 a.C. (por mais de dois mil anos e pelo menos 20 dinastias) quando o imperador Qin Shihuang resolveu unificar os sete reinos, criando assim o Império Chinês.

Embora frequentemente associada à defesa contra invasões, também teve funções comerciais, de comunicação e de controle de imigração. Serviu como rota comercial, sistema de correio e barreira contra tribos nômades.

Aconselho a ir com um guia ou com uma agência para não passar as peripécias que eu passei.

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