Finlândia: uma viagem pelo país mais feliz do mundo

No extremo norte da Europa, onde o inverno parece não ter fim e o silêncio domina a paisagem, seus habitantes parecem viver algo raro e paradoxo: a felicidade plena.

A Finlândia ocupa o primeiro lugar no Relatório Mundial da Felicidade há oito anos consecutivos, lidera também índices de liberdade, transparência e qualidade de vida, e figura entre os países com melhor sistema educacional do mundo. Não se trata de uma alegria efusiva ou de um entusiasmo aparente, mas de uma sensação profunda de bem-estar, segurança e equilíbrio — algo que os finlandeses carregam consigo em cada gesto simples do cotidiano.

“Países mais igualitários tendem a ser mais felizes”, explica Heidi Virta, diretora-sênior da Business Finland para a América Latina e autora do livro How to be Happier and Worry Less?. “Na Finlândia, todos têm as mesmas chances de prosperar, independentemente de onde nasceram ou de suas condições. Isso cria uma sociedade em que o bem-estar é compartilhado por todos”.

Segundo ela, a felicidade finlandesa está enraizada em valores como igualdade de gênero, liberdade de escolha, ausência de corrupção e um senso coletivo de que a vida deve ser vivida com dignidade e tranquilidade. “Embora outros fatores também influenciem o bem-estar, a igualdade e a inclusão são especialmente importantes, não apenas em termos de gênero, mas em todos os aspectos da diversidade.”

Esse conceito de felicidade como equilíbrio — e não como euforia — é perceptível assim que se pisa em solo finlandês. Seja nos cafés silenciosos de Helsinki, onde ninguém parece ter pressa, ou nas trilhas congeladas da Lapônia, onde o som dos passos sobre a neve ecoa como música.

A Finlândia parece ter compreendido algo que o resto do mundo ainda persegue: o luxo da simplicidade. O tempo desacelera, o ruído desaparece, e o corpo entende que ali, é possível respirar com mais leveza.

A capital, Helsinki, é um ponto de partida ideal para essa imersão sensorial. Com sua arquitetura sóbria e funcional, ruas amplas e banhadas pela luz do norte, a cidade mistura o ritmo urbano com uma conexão direta à natureza. Lagos, florestas e ilhas compõem a paisagem ao redor, e em poucos minutos é possível deixar o centro e se perder entre árvores centenárias ou embarcar rumo a um arquipélago desabitado.

O design escandinavo, a gastronomia local e os espaços públicos cuidadosamente planejados revelam uma filosofia de vida que coloca o bem-estar coletivo no centro de tudo. Mas se há um símbolo que traduz como nenhum outro a alma finlandesa, ele é caloroso e cheio de histórias: a sauna. Com mais de três milhões espalhadas pelo país — uma para cada dois habitantes — a sauna é muito mais do que uma tradição.

É um espaço de purificação, de encontro, de compartilhar. Políticos discutem acordos dentro dela, amigos se reúnem para silenciar juntos no calor úmido, famílias cultivam laços em meio ao vapor. Há saunas flutuantes, subterrâneas, elétricas ou aquecidas a lenha, mas todas seguem a mesma lógica: desconectar-se do mundo exterior para se reconectar consigo mesmo. Em muitas delas, o ritual inclui mergulhos em lagos gelados ou banhos de neve, num contraste que revigora corpo e espírito.

Esse apego à natureza, aliás, é outro segredo da felicidade finlandesa. A relação com o meio ambiente é respeitosa e íntima, como se a floresta fosse uma extensão da casa. O chamado “direito de todo homem” garante a qualquer pessoa o acesso irrestrito à natureza, mesmo em propriedades privadas, desde que não haja interferência ou destruição. Esse senso de pertencimento à terra é cultivado desde a infância e se expressa nas caminhadas diárias pelas trilhas, nos piqueniques no verão e nas idas à floresta para colher frutas silvestres ou cogumelos. 

Ao norte do país, na mágica região da Lapônia, o céu se transforma em espetáculo durante o outono e inverno. É lá que se avista um dos fenômenos naturais mais impressionantes do mundo: a aurora boreal. Em noites límpidas e geladas, faixas verdes e violetas dançam sobre as florestas nevadas. Há quem escolha dormir em iglus de vidro ou cabanas de luxo com teto panorâmico apenas para não perder um segundo desse balé celeste. E mesmo quando a aurora não aparece, o silêncio do Ártico e a vastidão branca ao redor já tornam a experiência inesquecível.

Antes mesmo de programar sua viagem para Finlândia, é possível sentir um pouco de seus sabores bem aqui em São Paulo. Foi o que experimentei ao visitar o restaurante “O Escandinavo”, onde a chef Denise Guershman recria com delicadeza a culinária nórdica.

“Tudo o que é servido aqui é feito no restaurante — e o que não é feito, vem direto dos países nórdicos”, conta ela, que define o espaço como “o cantinho mais nórdico de São Paulo”. Intimista e aconchegante, o Escandinavo segue o estilo hygge, essa filosofia escandinava que celebra o conforto e o bem-estar nas pequenas coisas.

Ali, entre conservas artesanais, peixes curados e defumados, e o singular queijo marrom — de sabor intenso, que mistura leite de cabra e caramelo —, servido na sobremesa ícone da casa, o waffer, provei um pedacinho do Norte. Um sabor que, como a Finlândia, não promete ostentação, mas entrega abundância e felicidade.

Foto de Raquel Pryzant
Raquel Pryzant