Por Fernando Muylaert
Nossa aventura de hoje nos leva a Dublin, a vibrante capital da Irlanda. Fundada pelos vikings no século IX, a cidade recebeu o nome original de “Dubh Linn”, que significa “poça negra”, em referência a um lago escuro na região. A mitologia irlandesa fala de poços sagrados habitados por criaturas míticas. No entanto, mesmo após frequentar os pubs locais e brindar com a tradicional Guinness — a cerveja escura mais famosa do mundo, nascida aqui — confesso que ainda não encontrei nenhuma criatura estranha, pelo menos até o fechamento desta edição.

Dublin já testemunhou de tudo: invasões, revoluções, poetas melancólicos e escritores geniais. É o berço de James Joyce, lar de Oscar Wilde, e um lugar onde cada pub guarda mais histórias que os capítulos de “Ulisses”. Caminhar por suas ruas é como folhear um livro antigo, onde cada esquina revela uma nota de rodapé em gaélico.
Não deixe de atravessar a Ha’penny Bridge, a ponte mais fotogênica de Dublin, construída em 1816. Seu nome peculiar vem do fato de que, originalmente, cobrava-se meio penny para cruzá-la. Em seguida, visite a Trinity College, a universidade mais antiga da Irlanda, fundada em 1592. A instituição abriga o famoso Livro de Kells, um raro manuscrito criado por monges que é a grande atração.

O que realmente me encantou foi a biblioteca da faculdade. Considerada uma das mais belas do mundo, existe desde 1732 e guarda mais de 200 mil volumes. Há quem diga que J.K. Rowling se inspirou nela para criar cenários de “Harry Potter”. Verdade ou não, a sensação é de estar dentro de um filme.

Visite também o Castelo de Dublin. Apesar do nome, parece um palácio com crise de identidade: já foi fortaleza viking, sede britânica, e hoje abriga salões que remetem a episódios de The Crown. Vale pelos jardins e pela Torre Record, que resistiu a tudo com a teimosia de um viking.


Sendo a Irlanda a terra de São Patrício, uma visita à sua catedral, a maior do país, é essencial. Curiosamente, o santo padroeiro não era irlandês; foi escravizado, fugiu e depois retornou para evangelizar. Contudo, foi a Catedral Christ Church que me cativou. Mais antiga que a Guinness (c. 1030), ela é um mosaico de estilos. Seu porão guarda tesouros inusitados, incluindo uma múmia de gato e rato – o Tom & Jerry medieval!
Mas se há um culto que todo irlandês abraça, é o da cerveja. Por isso, seu dia deve terminar no Temple Bar, o bairro e pub mais famoso. É um aglomerado de pubs, música ao vivo e turistas tentando cantar em gaélico após algumas Guinness. Minha dica: explore os bares para mergulhar na paixão nacional. Será lotado, mas a atmosfera é contagiante.

Dublin: impossível não se apaixonar, mesmo que a chuva tente convencer do contrário. Se você busca cultura, música, história e uma desculpa para beber às 11h, a cidade te espera com um sorriso irônico e uma caneca de cerveja.
				



