Durante o café da manhã, percebemos que não estávamos sozinhos. Silenciosos e curiosos, visitantes inesperados – e selvagens – se aproximavam, como se quisessem fazer parte da cena. Entre macacos ágeis e pássaros coloridos, vivemos encontros que se estenderam aos imponentes Big Five. Nos intervalos, exploramos a seleção de vinhos sul-africanos dos lodges e experimentamos dias de verdadeira integração com a natureza.

Houve noites de safári sob o céu estrelado e amanheceres em que, com os primeiros raios de sol, as terras de gigantes despertavam e elefantes cruzavam nosso caminho como velhos conhecidos. De avioneta, sobrevoamos as águas vivas do Delta do Okavango e, a partir dali, começou uma jornada de aventura e descoberta que nos levou ao coração de Botsuana.
Com ecossistemas intocados, o país se tornou o cenário ideal para uma missão: conhecer três dos melhores lodges da Wilderness. Mokete, Mombo e DumaTau – cada um com sua forma distinta de vivenciar a vida selvagem, combinando conforto, privacidade e um compromisso genuíno com a conservação.
Mokete, onde a natureza retoma o palco

O nome Mokete significa “celebração” ou “festa” – e aqui a celebração é da natureza. Antes um território de caça, a região foi recuperada e devolvida à vida selvagem, tornando-se um dos últimos santuários intocados de Botsuana. É também o único acampamento a oferecer safáris nessa área bruta e remota.
A experiência no Mokete rompe com itinerários fixos. Entre estradas de terra e noites sob um céu de estrelas sem fim, cada dia é guiado pelo ritmo da natureza. O lodge recebe apenas 18 hóspedes, em nove tendas. Sem paredes tradicionais, o hóspede está imerso no ambiente – ouvindo hienas à noite ou brindando com elefantes que passam pelo acampamento.
As refeições acompanham essa liberdade: pode ser um almoço embalado para ser saboreado entre zebras, ou um jantar ao ar livre olhando para a planície, onde o horizonte se curva. Um dos pontos altos é o esconderijo rebaixado, ao nível dos olhos dos elefantes, que oferece uma perspectiva rara e silenciosa desses gigantes. O objetivo é claro: conservar um território rico em fauna, incluindo aves de rapina e espécies ameaçadas, por meio de um turismo de baixo impacto.
Mombo, tradição do “Lugar da Abundância”

Localizado no Delta do Okavango, dentro da Reserva de Moremi – Patrimônio Mundial da UNESCO -, o Wilderness Mombo é conhecido como “O Lugar da Abundância”. A fama vem das densas populações de animais que circulam por seus 45 mil hectares de área exclusiva. Aqui, não é raro ver um elefante passando silenciosamente diante da sua varanda, um leão caçando na planície alagada ou aves raras como o corujão-pesqueiro-de-pel.
O Mombo mantém a tradição do safári clássico, mas com estrutura moderna e sustentável. As suítes de madeira e lona, cercadas por pés de mangostão e figueiras, oferecem vistas panorâmicas para a vida selvagem, piscinas privativas e banheiros com chuveiros ao ar livre. Há também uma suíte familiar para quem deseja compartilhar a experiência.

O lodge tem um histórico de liderança em conservação, incluindo a reintrodução bem-sucedida de rinocerontes preto e branco em Botsuana. A gastronomia segue o mesmo princípio de responsabilidade ambiental, com receitas que utilizam ingredientes nativos e produtos orgânicos, como o pó de baobá, rico em nutrientes. Safáris de carro, caminhadas guiadas e observação de aves são conduzidos por guias experientes, que conhecem a fundo o ecossistema.
DumaTau, entre elefantes e o “Rugido do Leão”

Na região de Linyanti, próxima à fronteira com o Parque Nacional de Chobe, o Wilderness DumaTau ocupa um ponto estratégico entre dois movimentados corredores de elefantes. São 45 km de frente para o rio, onde a fauna circula livremente, oferecendo encontros próximos e frequentes com os animais. Apesar do nome significar “rugido do leão” em setswana – e os leões realmente marcarem presença -, são os elefantes que protagonizam o cenário.
O DumaTau conta com oito suítes amplas, todas com piscina privativa e construídas sobre passarelas de madeira, que permitem observar a vida selvagem sem interferir no seu percurso. O design combina azulejos artesanais, madeira de acácia e tecidos locais, refletindo a identidade da região.

A gastronomia é outro ponto forte, com refeições preparadas a partir de ingredientes sazonais e locais, servidas no Osprey Lagoon Deli, à beira do rio. O lodge também oferece um spa, uma fogueira à beira da lagoa e atividades que vão além dos safáris tradicionais, como passeios de barco e experiências noturnas para observar animais que só aparecem após o pôr do sol.
Em Mokete, Mombo e DumaTau, cada dia se revela de forma única – seja acompanhando o silêncio atento de um leopardo na mata, observando elefantes cruzarem a planície ou ouvindo histórias ao redor da fogueira. Entre deslocamentos de avioneta e refeições compartilhadas com vista para horizontes sem fim, a experiência vai além da contemplação: é uma imersão que transforma a forma de enxergar a vida selvagem e o papel de quem a visita.

A cada hospedagem, o viajante percebe que ali o luxo não se mede apenas pelo conforto, mas pelo privilégio de estar em lugares que permanecem preservados graças a um trabalho contínuo. A Wilderness, desde 1983, mantém viva a missão de proteger ecossistemas, apoiar comunidades e inspirar novas formas de viajar com consciência. Em Botsuana, essa missão ganha forma concreta – e, para quem vive a experiência, fica a certeza de ter participado, mesmo que por alguns dias, de algo maior que uma simples viagem: um legado para a natureza e para as próximas gerações.





