Entrevistamos Marcelo Torma, CCO da Agência Suba, considerado o principal player do mercado de talentos

Ele chega para liderar o processo de conteúdo na Suba, considerada o maior player do mercado de talentos

Por Fábio Martuscelli

Com apenas 40 anos de idade e no mercado há 20 anos, Marcelo Torma tem em seu extenso currículo a atuação como Diretor Executivo de Criação da Havas e Diretor de Criação da F.Biz, onde além de ajudar a implantar a cultura da comunicação 360º conquistou o primeiro Leão de Cannes da agência.

Atualmente ao lado de Fabiana Bruno (CEO da Suba) tem como objetivo principal conduzir a transformação organizacional, liderar o processo de conteúdo e integrar as disciplinas da agência.

Com relação a sua vida pessoal, Marcelo é gaúcho, pai de dois meninos de onze e sete anos, grande apreciador de artes, arquitetura e colecionador de mobiliário brasileiro modernista.

Tivemos a oportunidade de entrevistá-lo e saber em detalhes um pouco mais sobre sua vida pessoal e opiniões com relação a comportamento, mercado e tendências:

Como foi sua trajetória até chegar na Suba?

“Eu sai de Porto Alegre para trabalhar no mercado publicitário, passei por grandes agências, tive a felicidade de trabalhar com muita gente boa, que foi fundamental, e nos últimos anos eu atuava como diretor de criação da F.Biz, uma agência digital que transformamos em 360, hoje já é uma agência completa […] E então rolou a oportunidade no grupo francês Havas, atuei como editor executivo de criação e ali tive a oportunidade de trabalhar com o mercado de luxo, um mercado incrível. […] Hoje, já na Agência Suba, juntamos profissionais que estavam cansados do formato de propaganda convencional, com novas atitudes de trabalhar e enxergar comunicação.”

Vocês trabalham os talentos e as personalidades para que tenham uma presença efetiva. Esse é o diferencial da Suba?

“Isso é um diferencial, sem dúvida, e é o nosso grande desafio. Estamos vivendo um momento muito legal […] você vê Karol Conka, por exemplo, sendo influenciadora da Mercedes-Benz, isso deixa muito claro o momento que vivemos e é um cuidado que temos que ter, com certeza tudo foi muito bem pensado até chegar a esse nome, e isso eu acho muito legal, esse é um momento onde enxergamos essas grandes marcas abrindo o mundo, hoje vendemos uma experiência com um valor agregado.”

Como acumulou repertório para trabalhar com personalidades, mercado de luxo e produção de conteúdo?

“Eu acho que é minha obrigação como publicitário absorver determinados conteúdos, como, por exemplo, de arte em geral. Faz parte da minha vida de um jeito até excessivo as vezes. Eu estudei arquitetura, sou um apaixonado pela área e a pessoa que mais me influenciou, sem dúvida, foi o Oscar Niemayer. Acho o Brasil tão rico de gênios e esse cara sem dúvida é o maior brasileiro em termos de arte. É um cara que sempre me chamou muita atenção e me inspirou […] Também gosto muito de mobiliário brasileiro, sou apaixonado, não diria que sou colecionador mas minha casa é toda montada com coisas que eu vou garimpando. Gosto de admirar as linhas e tentar entender como funciona a cabeça do cara que criou, fico observando e me perguntando como ele chegou a essa linha, e, então, tento aplicar na equipe, estimulando o entendimento de como podemos ir além disso, tentando entender a cabeça das pessoas que vão consumir e a forma como temos que vender.”

“…Como podemos ir além disso, tentando entender a cabeça das pessoas que vão consumir e a forma como temos que vender.”

O que costuma fazer e o que gosta em termos de arte, música e cultura?

“Música eu escuto realmente de tudo, de funk a música clássica. A música é muito rica para ficar em um estilo só. Escuto muita música brasileira, sou gaúcho, conheço um sanfoneiro que se chama Borguetinho, músico tipicamente gaúcho que pouca gente de São Paulo conhece. Esse cara tocou em um conserto em Paris e saiu uma nota dizendo que seria o novo jazz, quando esse tipo de coisa acontece eu penso como não damos valor aos nossos músicos […] eu sou muito aberto a música e aplico isso na comunicação, como, por exemplo, quando fizemos um trabalho para TRESSemmé onde trouxemos mulheres famosas para uma versão de uma música, mas ao invés de cantar, elas recitavam, e na escolha da música pensamos em pegar algo como Titãs, mas queríamos algo novo, então chegamos a um cara chamado Projota e ficou incrível, não teria ficado tão bom se tivéssemos usado Titãs, com todo respeito ao grupo. Pois isso trouxe um frescor a marca, e logo em seguida o cara bombou, a música foi parar em novelas. É legal estarmos atentos a essas coisas e valorizar o que temos aqui pois tem tanta gente com talento”

Sobre gastronomia, você cozinha?

“Não tão bem quanto gostaria, eu adoro cozinhar e acho que é algo que cresceu muito no mercado brasileiro, a gastronomia em São Paulo pode se colocar como uma das melhores do mundo. O mercado gastronômico está vivendo mudanças, os grandes chefes estão abrindo restaurantes menores, com um conceito mais boutique […] aliás o conceito do Chef Tchecho é incrível, o comer com as mãos, acho isso incrivelmente luxuoso, fora que fazem uma comida maravilhosa […] Vi uma coisa em Paris que foi uma experiência única pra mim, fui em uma peixaria e o cara se dizia ser artesão dos peixes, só o nome já me intrigou, e olha que legal que esse cara faz, de fato é uma peixaria, mas, ele tem muitos amigos fotógrafos e de tempos em tempos faz um vernissage na própria peixaria, e esta experiência de trazer arte pra dentro de uma lugar inusitado é brilhante.”

“…Esta experiência de trazer arte pra dentro de uma lugar inusitado é brilhante.”

Sobre viagens, quais lugares te inspiram?

“Eu procuro viajar duas vezes por ano a lazer, tento conciliar com meus filhos … eu viajo para comer e gosto muito de hotéis. Fui a trabalho, agora, para Cannes e decidi ficar um maior tempo para conhecer a região, fui até São Rafael e lá conheci um hotel impressionante, chamado Le Roche Rouge, arquitetura maravilhosa. […]. Nova York também é um lugar que me inspira muito, fico andando o dia inteiro e uma coisa que eu amo fazer e sentar em um bar e ficar observando o comportamento das pessoas na rua, acho fundamental para qualquer publicitário […]. Estive pouco tempo em Portugal, mas foi um lugar que também me impressionou muito, teve uma época que publicitários iam muito a Portugal e falavam muito mal e fui extremamente bem recebido, tudo de muito bom gosto. Uma coisa muito legal em Portugal é a história, coisa que não temos aqui, somos um país jovem, mas lá você vê história por um lado moderno […] e sobre inspiração tem uma marca em Nova York que conheci através do Instagram chamada Rivay, a loja dele é um Defender 90 que para nas ruas, e através das redes sociais eles passam o itinerário e as pessoas vão até lá, tem também um café chamado Bouvet que serve um café da manhã incrível, e o Via Carota, acho muito bacana a forma como eles vendem, eles realmente estão preocupados em fazer um bom trabalho, não só pensando no comercial mas com uma comunicação muito bem elaborada […] também  gosto muito de relógio e é engraçado por que é uma coisa que compramos e trocamos, mas os que eu realmente gosto não me desfaço. São aqueles que carregam histórias. Tenho um do meu avô, dos anos 40 e funciona até hoje.”

Quais são os relógios que você tem e que aprecia? Você tem uma coleção?

“Eu não chamo de coleção, fui me desfazendo de alguns ao longo dos anos. Tenho IWC, Rolex, mas o que mais gosto são os velhos, tem uma marca de relógios que o título diz assim “Você nunca é dono de um Patek Philippe, apenas cuidamos dele para a próxima geração” e isso é muito incrível, o produto entrega isso, todas essas grandes marcas suíças tem relógios que duram muito, e eu tenho isso com meus filhos, já sei qual vou deixar para o Pedro e para o Thomaz,  imagino como eles vão ser e a minha ideia é que eles levem isso para os filhos deles[…] conheci um artista plástico de Nova York e ele fez um negócio que achei incrível, não conheço muito de vinhos mas gosto, e ele me disse para quando meus filhos nascessem eu comprasse uma garrafa de vinho e guardasse até ficarem maiores, para assim abrir e tomarem comigo, e eu fiz isso, tenho duas garrafas que me esforço muito para não abrir pois quero que eles curtam esse momento comigo quando tiverem seus vinte e poucos anos, e é interessante pois estamos falando de um produto mas também de momentos, e eu procuro aplicar isso aqui na agência. As marcas têm que passar experiências e tem a obrigação de transmitir isso como um pensamento maior. Quero deixar claro que eu não me refiro aos objetos, quero cultuar coisas legais para criar elos afetivos, por exemplo, por isso fiz com os vinhos e relógios.”

“…As marcas têm que passar experiências e tem a obrigação de transmitir isso como um pensamento maior.”

Mas agora pensando em sua carreira, onde você quer chegar? Quais são os próximos passos?

“Cara… essa frase “eu quero chegar em tal lugar”, na verdade eu não quero parar de chegar, fazer coisas novas e aprender coisas novas todos os dias é o que acho essencial. O mercado que estamos é muito jovem, eu tenho 40 anos hoje, não me sinto um cara velho mas eu percebo que eu tinha alunos e os meus alunos, hoje, já estão virando diretores de criação e já tem uma galera mais nova vindo ai, então significa que tenho que me manter atual, mais para frente quero olhar para trás e ver que o que eu construí na comunicação me traz orgulho, e olhar pra frente e ver que eu ainda tenho chance de fazer coisas novas, talvez em outra área, como, por exemplo, desenhar móveis. Eu tenho móveis que desenho mas nunca tirei do papel. Então eu não quero chegar em algum lugar, eu quero estar em algum lugar, chegar para mim é meio que o fim, e se tratando de estar, pela primeira vez na vida eu estou em um lugar que fico muito feliz de estar, com as pessoas que eu gostaria de estar, fazendo um trabalho que eu gostaria de fazer, hoje eu estou onde eu gostaria de estar.”

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